Modelos e modelos

Aluvião Ribeira Brava Fevereiro de 2010
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Nos modelos matemáticos é necessário perceber as causas para modelar os efeitos. E se as causas são complexas, modelar matematicamente um efeito é algo que transcende a consciência humana. Nos casos dos desastres naturais, é fácil de qualificar as  causas, o difícil é quantificá-las.

No caso particular de Aluviões, a água que cai do céu não é a única causa, mas é sem dúvida a mais importante. E antes de tudo, e para este tipo de risco, é necessário primeiro quantificar com alguma certeza a quantidade  de água que cai numa Bacia Hidrográfica antes de prosseguir para o próximo passo.

Já todos sabemos que a água cai do céu num cenário físico de entropia completa. E para  se perceber o caos, imagine-se o percurso solitário de uma gota de chuva que no seu trajeto, pode dividir-se, depois unir-se, voltar a dividir-se, e adquirir formas, dimensões, e velocidades díspares antes de atingir o solo em distribuições geoespaciais, que são tudo, menos uniformes.

Função da Probabilidade de Distribuição em função do diâmetro das gotas

E para que se saiba existem várias fórmulas  da  distribuição da água, mas nenhuma que represente todos os cenários reais. E veja-se só, que mesmo utilizando a última tecnologia de medição dos disdrometros, é necessária uma amostragem de pelo menos 100 gotas de chuva para garantir um erro inferior a 10%.

Percebe-se que para um cálculo correto  – e no limite do absurdo – teríamos de ter uma rede de udómetros distanciados de metro a metro para estimar  a água que cai sobre uma determinada superfície geográfica. Mas como isso é impraticável, recorre-se a modelos de interpolação, que por serem teóricos, só devem ser aceites depois de devidamente calibrados por amostragem, isto é, com estações udométricas móveis em pontos aleatórios desconhecidos.

O pior mesmo é continuarmos a insistir em modelos de interpolação com desvios reais superiores a 50%, ou seja, modelos que em caso algum podem ser representativos de uma realidade e muito menos servir para estudos.

Pelo que já se conhece alguns modelos de dispersão até são aceitáveis em zonas continentais, mas em ilhas com orografias complexas como a Madeira tornam-se absurdos e erróneos. Os modelos para ilhas têm necessariamente de ser reinventados.

O que já sabemos é que todos eles, sem exceção, deixam de ser válidos junto à linha de costa. Mas este facto não deve ser preocupante porque, chova o que chover nas cotas baixas, não são preponderantes nem úteis para a previsão atempada e precoce de Aluviões.

Com todas estas restrições e constrangimentos, o que não podemos perder é o discernimento. Se o modelo for criado para estimar valores de chuva em pontos críticos não deverá servir para emitir recomendações sociais do tipo para levar o guarda-chuva quando se vai às compras ao Funchal.

E para terminar, todos concordamos que perante a complexidade dos fenómenos envolvidos, desenvolver um modelo estatístico que descreva a mecânica dos riscos naturais só é possível com equipas multidisciplinares nas diversas áreas da engenharia.