Trabalhar para o boneco

Trabalhar para o Boneco
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Em Portugal a expressão “trabalhar para o boneco” significa trabalhar para nada e tem um sentido muito diferente de “trabalhar para aquecer”. Ao contrário de “trabalhar para o boneco”,  a frase “trabalhar para aquecer” significa que o valor remuneratório  não compensa o esforço despendido  e o problema é que as duas expressões confundem-se  na má gestão das empresas.

É sabido que no nosso País uma grande maioria de portugueses “trabalha para aquecer” em troca de um salário miserável em que o próprio Estado encarrega-se de minimizar com impostos e mais impostos. Só por isso somos um País de baixa produtividade porque, quer-se trabalhe muito ou pouco, recebe-se sempre o mínimo. O engraçado é que o mesmo trabalhador, com as mesmas qualificações, passa a fronteira e recebe o dobro com  metade do esforço. E por isso não  é por acaso que os emigrantes portugueses sejam louvados e referidos como exemplos de dedicação e produtividade.

O que interessa mesmo nas empresas portuguesas é fingir que se trabalha de sol a sol porque normalmente confunde-se a assiduidade com produtividade. Chegar cedo e sair tarde é uma estratégia adotada por muitos trabalhadores que passam horas no café na amena cavaqueira porque o que interessa é saírem mais tarde para serem vistos por quem de direito.

Por exemplo, é sabido que as empresas permitem um intervalo de manhã para café e outro à tarde, mas somando as duas saídas de 15 minutos do café com os 15 da deslocação, são 60 minutos por dia, que multiplicados por 22 dias uteis, são menos 22 horas mensais, ou seja, quase três dias de trabalho a tomar cafeína sem produzir nada de nada.

Mas não só a displicência dos trabalhadores portugueses é culpada da baixa  competitividade das empresas portuguesas, muitas  optam por ocupar os trabalhadores com tarefas desconexas e longe dos seus objetivos prioritários. É comum alguns gestores inventarem tarefas  apenas para justificar um posto de trabalho, quando nem fazem a minimia ideia  se os resultados podem ser uteis, ou não, ao projeto.

Conheço muitos estudos de meses que são depois esquecidos ou metidos na gaveta por não se enquadrarem nas necessidades de determinado projeto. Se não se enquadra ou não são exequíveis, então porque se ordenou ou se perde tempo com eles? Fazer por fazer é “trabalhar para o boneco”!

Não estou a inventar nada. Ainda outro dia alguém me dizia, em tom de gozo, porque é que me preocupo com o sucesso de um determinado projeto, porque, aconteça o que acontecer, o meu salário está garantido no fim do mês. E não contente com a barbaridade que disse, acrescentou que está ciente que muito do trabalho que faz não serve para nada mas o mais importante é que isso faz feliz o seu chefe. Nem respondi, porque explicar a uma pessoa destas, que tenho brio e orgulho naquilo que faço, é perder tempo.

Se juntarmos ao “trabalhar para boneco” o “trabalhar para aquecer” então temos o “trabalhar para o boneco para aquecer” que se está a tornar muito comum em muitas empresas portuguesas.