Apocalypse Now

Apocalypse Now
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Apocalypse Now foi um dos filmes que marcou a minha juventude. Vi o filme pela primeira vez no então Cinema Casino e a partir daí já perdi a conta ao número de vezes que vi “Apocalypse Now”. O argumento até podia ser banal  não fosse tido sido baseado no romance Heart of Darkness escrito por Joseph Conrad em 1902, isto é, muito antes da Guerra do Vietnam. E o que tem Apocalypse Now a ver com Heart of Darkness? Nada para além do nome Kurtz (Marlon Brando) e de a maior parte da história passar-se num rio. Digamos que foi a envolvente psicopática de Heart of Darkness que inspirou Francis Ford Copolla.

O início do filme ao som de “The End”  dos eternos Doors é corrosivo e define logo o estado depressivo de Willard (Martin Sheen), um Capitão dos Estados Unidos encarregue pelo Coronel Lucas (o ainda desconhecido Harrison Ford) de assassinar Walter Kurtz, um coronel americano que alegadamente enlouqueceu com a guerra. A missão de Willard era subir o rio Nung num navio patrulha, integrar-se no grupo de assassinos – que Walter Kurtz liderava como um Deus – e eliminá-lo.

Para subir o rio era necessário colocar o navio no ponto certo e a primeira cena de guerra insana surge com o Coronel Kilgore (Robert Duvall)  comandante do 9º Regimento de Cavalaria e tarado pelo Surf. Ao som de “ride of the valkyries”, de Richard Wagner, o Coronel Kilgore lidera um ataque frenético de Helicópteros a uma aldeia Vietcong com a intenção de cumprir a missão e aproveitar para fazer surf numa das melhores praias de ondas.

O ataque é demolidor e destrói completamente a aldeia cheia de civis, mulheres, crianças e termina com um bombardeamento de aviões F-5 que arrasam uma zona da floresta infestada pelo inimigo. Do ataque ficou  célebre frase de Robert Duvall “Adoro o cheiro a Napalm pela manhã… cheira a… vitória”.

A subida do rio ao som de “I Can’t Get no Satisfaction” dos Rollings Stones é um tratado à psiquiatria das guerras onde as drogas se misturam com a loucura dos militares que acompanham o capitão Willard na sua missão homicida.

O ambiente envolvente é de esquizofrenia completa e tem o seu auge no diálogo de Willard com o Coronel Kurtz, em que este defende que a solução para o fim da guerra é “Drop the Bomb”, referindo-se à bomba nuclear. O filme termina com o esperado assassinato de Kurtz que, no fim de contas, revelou ser o único com um espirito são de uma guerra insana.

Embora produzido no País mais democrático do mundo, o tema da guerra do Vietname incomodava tanto o poder político que o filme foi censurado nas cenas consideradas fortes. E por muito estranho que pareça, apenas em 2019 – 40 anos depois do seu lançamento – foi lançada uma nova versão integral de “Apocalypse Now” denominada “Final Cut”.

Apocalypse Now é talvez um dos melhores filmes de guerra que já vi e o bom do filme é que cada vez que o revejo descubro sempre pormenores psicopáticos novos.