Chuva de números.
Que fique bem claro que não sou especialista em meteorologia nem leitor assíduo do Borda-d’água, e como engenheiro limito-me a analisar apenas os números. Na verdade para mim os fenómenos meteorológicos não passam de matemática e de estatística e o meu interesse nesta área reside essencialmente nos fenómenos conhecidos como extremos.
Segundo a WMO (World Meteorological Organization) a maior chuvada do mundo ocorreu em 1966, na Ilha da Reunião, uma ilha francesa no sul do Indico, aquando da passagem do Ciclone Denise, onde em 24 horas choveu, nada mais, nada menos, do que 1825mm.
E não foi preciso esperar muitos anos para que a Ilha da Reunião voltasse a bater outros recordes mundiais. Em 2007, com a passagem de outro Ciclone tropical de nome Gamede choveu mais de 3929 mm em 3 dias, e 4869mm em 4 dias.
Mas se estes números são assustadores imagine-se só o que é chover 401mm numa hora, como aconteceu em 1975 em Shangdi na China.
Com estes números, a Ilha da Madeira pode-se considerar um cantinho do céu, porque os números que temos do 20 de fevereiro de 2010 estão a milhares de milímetros dos tais recordes da Ilha da Reunião.
Quem já estudou estes fenómenos extremos na Madeira já se apercebeu que são fenómenos muito concentrados e geograficamente entrópicos, ou seja, na Madeira é muito comum termos valores vizinhos muito díspares, isto é, chover 100mm num local e a 1Km apenas 10.
Um exemplo recente disso é o dia 28 de fevereiro de 2018. Os números do Desvio Padrão de 4 estações udométricas, a menos de 2Km uma das outras, e sensivelmente à mesma cota, mostram um Desvio Padrão crescente, e quase exponencial, ao longo das 24 horas.
Para quem não sabe, o desvio padrão é um parâmetro estatístico que mede a dispersão da média de uma variável aleatória. Um valor baixo do desvio padrão é um indicador que os valores medidos estão próximos do valor da média, ou mais precisamente, são muito iguais e próximos do valor esperado.
Para perceber a importância do Desvio Padrão, imagine-se que tenho 20 latas de coca-cola e coloco-as à disponibilidade de 10 jovens. Todos eles pegam numa lata e bebem a sua coca-cola, mas um deles – o mais lambão – consegue beber as outras 10 que ainda ficaram enquanto os outros 9 continuam distraídos a saborear a sua Coca-cola. Para a estatística a média indica que cada aluno bebeu duas Coca-colas quando na verdade o lambão bebeu onze e os outros todos beberam apenas uma.
Voltando aos números da chuva, temos agora a noção da importância de na Madeira se ter um número suficiente de estações que possam medir com alguma certeza a quantidade de água que cai do céu e que pode em casos extremos originar Aluviões.
E agora já todos estamos cientes que não se pode fazer estudos sem dados, mas pior mesmo, é faze-los com dados errados ou insuficientes.