O Último Tango em Paris

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Depois de Abril de 74 houve uma tendência natural de banalização do sexo e da pornografia. Mesmo durante o auge da revolução, os meus pais tiveram de apresentar o bilhete de Identidade quando foram ver “Helga” ao Cinema João Jardim. “Helga – A revolução Sexual” era um filme alemão – classificado para maiores de 21 anos – que mostrava explicitamente o nascimento dum bebé. Na altura foi um escândalo.

Anos mais tarde,  fui ver o Último Tango em Paris, outro ícone da revolução de Abril. A Associação de Estudantes do IST, de vez em quando passava uns filmes , e desta vez, como era de sexo, o anfiteatro estava cheio.

Ver o Marlon Brando, já com indícios de calvície, e as mamocas da Maria Shneider numa história quase banal, típica dos anos 70, não era nada de muito extraordinário. Faltavam as pipocas para o filme ser realmente divertido. As cenas de sexo implícito misturadas com o falso intelectualismo dos parisienses – comum em muitos filmes da época – tornava banal o argumento do filme.

Mas o melhor estava para vir. Depois do filme, e a meio de duas imperiais, um colega meu do Técnico que se considerava cinéfilo conseguiu ver a profundidade da interpretação dos dois principais intervenientes do filme.

Segundo ele, a Maria Shneider excedeu-se a si própria , e considerava até que este teria sido o melhor papel do Marlon Brando. E eu só me recordava da cena da manteiga e já cansado de tanta verborreia, concordei com ele e comentei que para mim o David Guilmour tinha sido a grande surpresa no filme.

Ele parou de beber, olhou para mim algo surpreendido e, com alguma relutância, concordou que sim.

Sorri e bebi mais um golo da imperial, e nunca lhe disse que  David Guilmour, o  então guitarrista dos Pink Floyd, não tinha entrado no filme.