A emigração da inteligência

A emigração da inteligencia
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Há muitos anos atrás quando terminei a licenciatura em engenharia tentei emigrar para o Canada mas na altura foi-me dito, pelo Diretor Regional que tutelava a Emigração, que o Canada não tinha interesse em inteligência, mas sim em mãos para trabalhar. Na altura achei caricata a resposta de um dos melhores países para trabalhar, mas hoje compreendo que, há 30 anos atrás, o mercado de trabalho daquele país tinha outras prioridades.

Os anos passaram e o cenário mudou na busca frenética de jovens promissores portugueses. Quando alguns jovens me perguntam se emigrar vale o risco, não hesito em responder que se atirem de cabeça e partam, pois, são oportunidades que não se devem perder.

Na vida profissional tive a honra de privar com pequenos génios – que não vou enumerar para não correr o risco de falhar um nome – e todos eles infelizmente partiram. Pelo pouco que sei, estão todos bem e realizados profissionalmente.

Pelo contrário, se tivessem optado por terem cá ficado provavelmente iriam continuar a produzir gráficos Excel impressos em papel que, como se sabe, é considerado excelente num País com pouca coragem para dar passos em frente.

Em Portugal nada se perde, nada se transforma e pouco se evolui porque todos sabemos que em interesses instalados não se mexe. Pensando bem, quantas empresas que conhecemos mudaram métodos de gestão ou modelos de negócio integrando ideias novas nos seus quadros?

Felizmente hoje a tecnologia e as comunicações permitem que se trabalhe em qualquer parte do mundo por detrás de um teclado e só muito recentemente aprendi que numa conferência de 30 minutos no Google Workspace ganhamos mais que num mês em Portugal. O melhor de tudo, é que além de sermos pagos pelo que valemos, obtemos o respeito da comunidade científica internacional, além da inquestionável vantagem de partilharmos ideias e conhecimentos com os melhores.

Quer se acredite ou não, a rede profissional Linkedin veio trazer um novo paradigma para a globalização do mercado de trabalho e não são raros os casos de ofertas de emprego irrecusáveis. Claro que no meio do trigo da oferta de emprego existirá sempre o joio, mas os casos de sucesso que conheço são estatisticamente muito superiores aos dos de fracasso, isto é, são muito poucos os jovens que regressam desiludidos.

O eterno problema de Portugal é que as empresas portuguesas continuam convictas que a margem do seu lucro deve basear-se no baixo salário e não nos métodos de gestão ou nos produtos ou serviços que vendem. Pior que a política dos salários baixos é o facto de muitas menosprezarem os seus melhores ativos julgando que estes são facilmente substituíveis. Quanto custa a uma empresa integrar e formar quadros apenas para substituir um ativo considerado imprescindível?

A piada é que a volatilidade do mercado de trabalho começa a ser tão elevada que muitas empresas apostam em esconder os seus melhores ativos para que ninguém se lembre deles, esquecendo-se que nos dias de hoje, a concorrência do resto do mundo fica mesmo ali ao lado.

O resultado desta estratégia empresarial errada é que os jovens que, por uma ou outra razão optam por cá ficar, não são os melhores e os poucos casos de sucesso que conheço provêm de outros fatores, como a sorte ou a algum oportunismo muito duvidoso.

Os exemplos de emigração de inteligência que conheço são às centenas e, a título de curiosidade, ainda no outro dia alguém de uma grande empresa tecnológica lamentava-se que um dos seus melhores ativos tinha emigrado para a Alemanha.

Infelizmente já não sou jovem e o tempo que me resta não é propício a novas aventuras, senão tinha pensado duas vezes antes de recusar uma oferta de emprego na Europa.