O Bicho do Mato

Bicho-do-mato sem nexo
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Quando era pequeno a minha mãe dizia-me que eu era como o Bicho do mato, e a bem da verdade era tímido, pouco sociável, e escondia-me de toda a gente. Entretanto cresci, mas continuei assim, e o meu maior sonho na adolescência era viver nu com o meu primeiro amor numa ilha deserta sem ninguém por perto.

Ainda hoje, e depois de toda uma vida, continuo a ser teimosamente um Bicho do mato. Sinceramente, não gosto de sair, e muito menos de pessoas, e por isso, não são poucas as vezes em que sou acusado pela Cristina de não me esforçar muito por ser simpático com os amigos.

Com tudo isto, e não sendo sociólogo ou psicólogo, julgo não ter nenhuma patologia social, e até estou convicto que o facto de não ter paciência para aturar certo tipo de pessoas não pode ser considerado fobia social, ou algo do género, mas sim apenas bom senso.

Sinceramente acho que o problema não é só meu, porque gosto muito de pessoas discretas e inteligentes mas detesto os chamados fala-baratos.

À medida que envelhecemos apercebemo-nos que, cada vez mais, seja na rua, no supermercado, ou mesmo no emprego, começa a surgir à nossa volta uma geração de pessoas sem qualquer interesse, em que a única coisa em que são bons é a falar pelos cotovelos.

Estou convicto que a culpa é do Ensino que temos, e um mau exemplo é o Processo de Bolonha que nos trouxe uma geração de licenciados literalmente incompletos, mais interessados em progredir na carreira, do que em produzir ou acrescentar algo de novo à sociedade.

A realidade é que cada dia que passa estamos cada vez mais cercados de fala-baratos ambiciosos sem ideias próprias que se limitam tacitamente a concordar e a repetir – como se fizessem parte do eco – as ideias dos que mandam nisto.

Para não correr o risco de generalizar, confesso que já encontrei jovens licenciados muito interessantes, com ideias próprias e inovadoras, mas que por razões que a própria razão desconhece, escolheram outra opção noutro País, e não tenho dúvidas nenhumas que Portugal ficou a perder.

Que a minha mãe me perdoe, mas a continuar assim, prefiro ser sempre um Bicho do mato.