Por Causa de Três Vaginhas.

Três Vaginhas sem nexo
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As lembranças que nos ficam marcadas para a vida são sempre as más, e por isso nunca me irei esquecer desta história.

Em miúdo ia muitas vezes com o meu pai a uma Barraca que havia junto à Igreja de São Paulo na Rua da Carreira comprar verduras, e só quando não havia o que ele queria, íamos os dois ao Mercado dos Lavradores.

Das minhas memórias de infância do Mercado dos Lavradores, lembro-me de comprarmos galinhas que eram mortas  na hora e depois depenadas por uma espécie de lixa elétrica. E entre o horror do morticínio e a tecnologia, ficava lá eu estupefacto a assistir.

Um belo dia, enquanto o meu pai, que era Nacionalista ferrenho, discutia futebol com o vendedor, aproveitei para tirar três vaginhas do cesto e meter no bolso. Para quem não sabe, vaginha é o termo madeirense para a vagem ainda tenra do feijão, mais conhecida em Portugal por feijão-verde.

Depois de comprar todas as couves e cenouras, saímos os dois do Mercado. Ao sair, tirei as três vaginhas do bolso, e orgulhoso do feito mostrei ao meu pai. De repente, e sem anúncio prévio, levei uma estalada na cara acompanhada por uns gritos de raiva. Nunca tinha visto o meu pai tão mau.

A chorar, o meu pai arrastou-me pelo braço até à Barraca  para  devolver o que eu tinha roubado. Depois de me obrigar a  pedir desculpas, o  vendedor riu-se e  entregou-me uma mão cheia de vaginhas, dizendo que o meu castigo seria ter de comer tudo numa sopa ao jantar.

Quando cheguei a casa, o meu pai contou a história à minha mãe, e lembro-me que ela disse-me logo que, se eu roubasse mais alguma coisa, podia ser preso para o resto da vida.

Chorei a tarde toda e aprendi a lição, mas no fim até tive sorte porque eles esqueceram-se da sopa e o jantar foi arroz com ovo.