Ideias e idiotas

As ideias e a escuridão sem nexo
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Etimologicamente, a palavra idios  era um adjetivo  grego que identificava as pessoas solitárias e reservadas cujas ideias não tinham fundamento na sociedade grega. Com a evolução para o latim, o termo idios evoluiu  depreciativamente para idiota que significa imbecil,  estúpido,  palerma,  e ignorante.

Nada mudou, e hoje um Homem de ideias é muitas vezes considerado um idiota pelas organizações. E porquê um idiota?

A resistência à mudança é um problema real em qualquer organização, e para que se saiba, não é nada estranho que nas organizações as pessoas das ideias sejam marginalizadas apenas pelo facto de poderem abanar o comodismo a que muitos estão habituados.

Porquê mudar, se assim é que se está bem? Porque meter apenas um carimbo num documento quando existe espaço para dois? Porquê digitalizar documentos se pode-se tirar fotocópias?

E a primeira reação dos acomodados é depreciar as novas ideias e afastar compulsivamente os que as produzem marginalizando-os e colocando-os muitas vezes à margem da organização. Sei do que falo. Normalmente, dum lado fica a luz, do outro a escuridão.

Há uns anos atrás tive a oportunidade de trabalhar com alguns jovens licenciados ao abrigo dos Estágios Profissionais do Instituto de Emprego, que viam ali uma janela de oportunidade em estagiar e aprender.

Nas entrevistas falava-lhes de inovação e dos novos projetos da organização e sentia-lhes o brilho nos olhos.  Lembro-me, particularmente de um que se perdeu completamente na entrevista. A meio  já discutíamos, ideias novas para os projetos que estávamos a desenvolver. Na verdade, algumas idiotas, outras brilhantes.

O miúdo tinha iniciado a licenciatura no Instituto de Engenharia de Lisboa e terminado na Universidade da Madeira e disse-me logo que não queria um emprego para virar papeis mas sim para produzir coisas novas e uteis para a sociedade.

Lembro-me que na entrevista chegamos até a falar de algoritmos  de geolocalização e surpreendentemente o miúdo em poucos minutos já tinha apresentado uma sequência de ideias exequíveis.

Ficamos com ele enquanto durou os 9 meses de estágio, e com pena minha, um dia, farto de burocracias, decidiu partir para outra grande oportunidade. Ficamos todos a perder. Ele e nós!

Sem dúvida, que era um sonhador. No início senti pena, mas depois fiquei contente por ele. Em pouco tempo as suas ideias, ou iam ser absorvidas por alguém mais esperto que ele, ou então, o mais provável era serem ridicularizadas e desprezadas apenas por inveja de quem nunca produziu nada.

E como sempre os bons ficam pouco tempo, e o resultado é que em nome do porreirismo, as organizações ficam sempre com os restos, ou seja, com os menos válidos.

O medíocre discute pessoas, o comum discute factos, e o sábio discute ideias.