Diário de uma Quarentena Dia 20

Medo de andar de avião
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Hoje é Sexta-feira Santa, o que para um ateu convicto como eu não devia significar nada. Mas diga-se, que além de um mau Cristão sou um reles ateu, e quando viajo de avião, e pelo sim pelo não, lembro-me sempre de um Deus.

Porquê? Parece irracional para uma pessoa que só acredita nos números da matemática e que sabe que a probabilidade de haver um acidente aéreo é de 1 para 1 milhão.

Mas o problema é que somos humanos e os grandes números da estatística ultrapassam a nossa compreensão lógica. Todos acreditamos que um dia nos vai sair o Euromilhoes, mas muito poucos de nós sabe que é 100 vezes mais provável morrer num acidente de avião do que sair o primeiro prémio.

Mas passo a explicar melhor o meu medo irracional de morrer num avião.

Nasci numa pequena casa numa noite de relâmpagos de uma terça-feira do dia 20 de fevereiro de 1962 e uma bruxa de uma vizinha que assistiu ao parto difícil disse à minha mãe que eu como tinha escapado milagrosamente só podia ser filho do diabo, e que quando eu morresse, 400 pessoas iam morrer à minha volta.

Nunca percebi porquê o 400, e não 500, ou 100 mil? Julgo que a velhota não sabia contar acima de mil e inventou aquele número.

Com tudo isto, já passei pelo 20 de fevereiro de 2010 que me marcou pela coincidência da data, já viajei inúmeras vezes de avião, acagacei-me todo com o último sismo do dia 7 de março de 2020, e agora espero também sobreviver ao COVID.

A minha esperança é que a probabilidade que o nº 400 tenha de ser exato, é de 1 para mais de 500 milhões e portanto o bom destas contas é que é três vezes mais provável que me saia o Euromilhoes do que morrer ao pé de 400 pessoas.

Eu não acredito em bruxas, mas que existem, existem, e por isso recuso-me a viajar de Boeing 747-400 porque é um avião com 400 lugares.

Uma Páscoa Feliz e fiquem em casa!

#fuckcovid19