A ditadura das maiorias

A Ditadura das maiorias
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A expectável crise económica que aí vem irá provocar imperativamente episódios de racismo, xenofobia, e violência em todo o mundo. Basta ter dois neurónios vivos no cérebro para adivinhar que por causa da COVID-19 a crise do desemprego vai aumentar o fosso entre os deveres e os direitos dos que pertencem à maioria, e os  que, por azar do destino, nasceram na minoria.

E não é preciso ser muito inteligente para perceber que nos eventuais cenários de caos e anarquia, caberá às forças de segurança manter o Estado de Direito, porque, e infelizmente, muita gente ainda não conseguiu perceber que não são as raças que cometem os crimes, mas sim o dinheiro, ou melhor, a falta dele.

E agora, e porque me apetece, deixem-me ser sarcástico.

Os novos desempregados irão culpar as minorias e os imigrantes pela crise, e vamos todos finalmente descobrir que o grande culpado não é o tal vírus do pangolim, mas sim os negros, os chineses, os ciganos, os muçulmanos, e todas as outras minorias que vivem espalhadas pelo mundo. E  que a única solução para terminar com quaisquer conflitos xenófobos e racistas é enviar todos de volta para as suas origens.

Para resolver o problema do desemprego a Europa devia despachar os negros para África, expulsar os muçulmanos para o médio oriente, e os chineses para a China, deixando a Europa apenas  para os arianos de olhos azuis.

E os Estados Unidos de Trump, para ficarem outra vez grandes, vão expedir os Negros para África e os Brancos para a Inglaterra, deixando Nova Iorque e as pradarias para os Índios que, como se sabe, são os únicos nativos da América do Norte.

E a Madeira não se podia deixar ficar, devia também enviar de volta para os seus países de origem, os negros, os ciganos do Santo da Serra, os  chineses das lojas dos 300, os   ucranianos das obras, os venezuelanos, os turcos, os marroquinos, os ingleses, os franceses, os belgas, os alemães, os gibraltinos, os espanhóis, os sul-africanos, os italianos, os jogadores de futebol, e todos os portugueses que colonizaram a ilha.

E para não nos chamarem xenófobos – e apenas por uma questão de cortesia – deixaríamos ficar cá, com as nossas endémicas lagartixas, os descendentes dum tal Robert Machim que, como se sabe, foi o primeiro habitante da Ilha da Madeira.