Sistemas de Deteção de Incêndios Florestais
Há mais de vinte anos que se fala em sistemas de deteção precoce de incêndios florestais, e a sensação que temos é que estes sistemas pouco evoluíram nestes últimos 20 anos. Basicamente continuam a ser constituídos por uma camera de vídeo comandada por motores azimutais e de elevação.
A maioria dos sistemas existentes conseguem detetar colunas de fumo a 15km e fogo a 5km, ou seja, no fundo conseguem cobrir mais de 700km2 de área florestal. O problema é que em Zonas de Orografia Complexa (ZOC) como a Madeira, a cobertura reduz-se drasticamente a 50Km2, ou seja, segundo estudos com modelos DTM para cobrir integralmente a ilha serão necessários cerca de 14 sistemas e inúmeras simulações para a otimização dos locais de instalação.
Embora não pareça, a tecnologia de deteção de incêndios evoluiu, e hoje a maioria dos sistemas são constituídos por duas cameras acopladas, uma delas ótica de grande resolução para a deteção de colunas de fumo, e outra SWIR (Short Wave Infrared) para detetar os chamados pontos quentes, e muitos já utilizam algoritmos de IA , isto é, Inteligência Artificial, na interpretação de eventos.
E por falar em inteligência e tecnologia, em tempos um conhecido meu criou uma aplicação para telemóvel que permitia fotografar eventos com um simples telemóvel, georreferencia-los, e envia-los automaticamente para um servidor de GIS Mapping, o que permitia cadastrar e localizar fenómenos como incêndios, queda de pedras, isto é, os locais precisos onde os eventos ocorreram.
Sinceramente nunca percebi porque é que o projeto nunca avançou, mas foi com algum regozijo que descobri que, muitos meses depois, o INESC anunciou para 2021 o projeto FireLoc, que é nada mais, nada menos, uma App para telemóvel que permitirá a qualquer cidadão anónimo fotografar um foco de incêndio, georreferencia-lo automaticamente e informar os serviços de emergência, isto tudo com apenas um simples botão.
Entretanto, e enquanto se aguarda pela disponibilidade da aplicação, e para quem gosta de eletrónica e de informática, existem algumas ferramentas interessantes com o OpenCV e o Raspberry, para desenvolver protótipos na área da computação visual.
OpenCV é o acrónimo de Open Source Computer Vision Library, e é, nada mais, nada menos, que uma biblioteca com mais de 2500 algoritmos de análise de imagens. O melhor do OpenCV é que o seu código é aberto e distribuído gratuitamente sob uma licença de Software BSD com muito poucas restrições ao seu uso livre.
Digamos que a maior vantagem do OpenCV é que existem milhares de pessoas a contribuir para a sua evolução com novos algoritmos de interpretação de imagens, e o facto de ser opensource permite que muitos interessados e mesmo algumas Software Houses desenvolvam aplicações no campo da análise de imagens de video em tempo real.
O OpenCV é presentemente muito utilizado em contagens de veículos, reconhecimento facial e contagem de pessoas, no cálculo de velocidades de objetos, e no caso particular dos sistemas de deteção de incêndios, nomeadamente na georreferenciação de pontos de ignição e de fumo.
E como ainda não se paga para pensar, o bom mesmo é experimentar e descobrir o mundo interessante dos algoritmos da computação visual na análise e deteção de eventos.