Receitas Culinárias

Depois de me ter prometido escrever algumas das suas receitas secretas no 100 nexo, a Cristina, deu o dito pelo não dito, e agora vem dizer que escrever as suas receitas num Blogue sem nexo que ninguém lê – além de demonstrar pouca inteligência – é do mais rasca que existe em literatura.
É claramente uma opinião de quem nunca leu Henry Miller, Carl Moebius, ou Jerome Salinger.
Nem todos temos a perfeita noção que as Receitas Culinárias são do que mais subtil e poético que existe no mundo da literatura. Que o digam as 6 milhões de Receitas em língua portuguesa, as 30 milhões em mandarim, e as mais de 200 milhões em língua inglesa, publicadas na Internet.
Mas convencer a Cristina com tão pouco não é nada fácil, e o único modo que conheço é demonstrar que uma Receita Culinária tem tanto de literatura como os Maias de Eça de Queiroz.
E ainda digo mais, se Luis Vaz de Camões, além dos Lusíadas que muitos poucos portugueses leram, tivesse escrito também um livro de receitas, este teria sido um Best-seller, e ele não tinha morrido a 10 de junho de 1580 na miséria.
E o melhor de tudo é que hoje Portugal seria famoso porque os melhores restaurantes do mundo em vez de estrelas “Michelin”, teriam estrelas “Camões”. E que se assim fosse, o dia 10 de Junho passaria a chamar-se o “Dia de Portugal, de Camões e da Cozinha Portuguesa”, e a receita da Caldeirada seria considerada um hino à poesia e à literatura.
Com tudo isto, o mais provável é que a XXXII edição do livro “Receitas de um Lusitano” teria um prefácio do Chefe José Avillez e começaria assim com um verso sobre a Caldeirada:
“As 2 Kg batatas e os 4 peixes frescos,
Que do Pingo Doce chegaram,
Por cozinhas nunca de antes servidos,
Passaram ainda além da Madeira,
Em 4 tomates e 2 cebolas refogados,
Mais do que prometia o sabor humano,
E entre gente remota cozinharam
Nova receita, que tanto sublimaram;”
e que, sem surpresas, o último Canto do livro terminaria em êxtase com a frase “deite sal q.b.”
Será que com tudo isto consegui convencer a Cristina?