O Divórcio e a Omelete

omelete sem nexo
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Aos fins de semana no Porto Moniz faço sempre o pequeno almoço, e é por isso que a Cristina considera-me – a par de Richard Gere – o marido quase perfeito, pois em 20 anos de casamento nunca falhei um pequeno almoço.

Era sábado, levantei-me, cheguei à cozinha e  olhei para a máquina NESPRESSO mas não vi cápsulas.  Depois abri o frigorifico mas também não havia quase nada. Nada de leite, doce, manteiga, ou seja, quase nada de nada.

Procurei muito e encontrei dois ovos na porta do frigorifico, um pacote de leite em pó petrificado – que alguém se esqueceu no armário da cozinha – e um fundo de Nescafé num frasco que também devia ter uns anos.

Isto promete. Tinha os ovos para uma omelete, mas não tinha cebola, salsa, ou sequer bacon para acompanhar o fabuloso pão de batata do Porto Moniz que tinha comprado no dia anterior na Santa.

Mas nada que melindre um fabuloso cozinheiro como eu. Encontrei uma lata de salsichas de peru ainda na data de validade, bati os dois ovos e deitei-lhes sal. Coloquei a frigideira, rodei o botão do fogão e de repente lembrei-me do que me tinha esquecido de comprar. O gaz!

No Porto Moniz o gaz não chega sozinho a casa, e normalmente tenho de trocar as garrafas de dois em dois meses num distribuidor lá da zona, mas tinha-me esquecido completamente de trocar na semana anterior.

Normalmente sou pago para pensar e foi assim que olhei para o micro-ondas e vi a solução. E dois minutos depois já tinha uma omelete de salchichas, pão e duas chávenas de café. Sou mesmo bom!

Acordei-a, ela sentou-se na mesa, olhou para o café e provou, olhou para a omelete e arrepiou-se, e depois olhou para mim, e com o ar mais calmo do mundo disse: – Quero o divórcio!

O Divórcio? Realmente a omelete tinha especto de merdinha de bebé e o café tinha gosto a bolor, mas nada comparável ao episódio dos espinafres biológicos salteados em azeite e alho que a pôs de diarreia durante dois dias.