Criado por Idiotas

Raised by Wolves
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Desde de muito novo que tenho uma paixão pela ficção científica, mas como não tenho todo o tempo do mundo para ver tudo o que se faz, opto por fazer downloads de temporadas completas para depois – e conforme a cotação no site imdb – ver toda a série de uma só vez. Neste caso, a cotação de 8.6 em 10 do imdb prometia que “Raised by Wolves” seria uma série extraordinária. Claro que esta cotação é sempre muito discutível porque é sabido que todos os taradinhos da ficção científica inflacionam sempre a votação dos filmes do género.

“Raised by Wolves” (Criado por Lobos) foi uma das últimas grandes produções da HBO. Da autoria de Ridley Scott (o mesmo que ficou famoso com o  assustador Alien e o fantástico Blade Runner), “Raised by Wolves”  prometia exceder as expectativas. E diga-se desde já que o título da série foi bem conseguido, e faz lembrar as histórias incríveis de crianças reais que foram criadas por animais selvagens.

Voltando à série, o início da história é quase vulgar e comum a muitos filmes de ficção científica, e conta a história em que a humanidade para sobreviver ao extermínio de uma guerra terminal entre uma seita religiosa adoradores do Sol e Ateus, é obrigada a procurar outro planeta para sobreviver.

O filme começa com a chegada de uma pequena nave a Kepler-22b. Para quem não sabe, Kepler-22b é um exoplaneta real descoberto em 2011 pela NASA. Embora a 620 anos-luz da Terra, Keppler-22b tem um diâmetro com o dobro da Terra e orbita uma estrela mais pequena que o Sol e foi o primeiro planeta a orbitar uma zona considerada com água e habitável para os seres humanos

A nave que chega ao planeta transporta apenas dois androides, um de fisionomia feminina chamado “mãe” e outro masculino e negro  chamado “pai”. O planeta parece ser frio, inóspito e misterioso, e os dois Androides sem se preocupar a procurar outra zona melhor começam por montar um acampamento com equipamento que se vem a revelar ser uma maternidade. A “mãe” (Amanda Collin) é ligada por tubos  a seis incubadoras, e nove meses depois nascem seis bebés. E aqui coloca-se a primeira questão. Porque nove meses, e não seis, ou três? Quem tem tecnologia para viajar 620 anos não tem tecnologia para acelerar o crescimento dos fetos?

Os três primeiros episódios retrocedem a história para que os mais distraídos possam perceber melhor a série, mas os seguintes tornam o argumento num excesso de ideias inverosímeis e o argumento que prometia ser algo sublime entre o Apocalipse e o Genesis, torna-se entrópico e perturbador.

Por exemplo, é inexplicável que os androides com tanta tecnologia disponível não tenham descoberto atempadamente que as cinco das seis crianças que morreram foram envenenadas por um tubérculo radioativo com que eles as alimentavam.

E porque é que a “mãe” protetora das crianças afinal é uma terrível Necromante  não tem qualquer relutância em exterminar milhares de humanos que também chegaram a Keppler-22b?

E dá-se ao início a uma série de incongruências inaceitáveis! Se bem que os androides possam viajar 620 anos aos humanos isso não é possível numa só geração. E que dizer dos buracos  que atravessam a crosta de um planeta com o dobro da Terra e quem nem libertam um calorzinho para a superfície? E que ser é aquele que surge apenas uns segundos  num episódio antes de ser eliminado levando numa bolsa um crânio do Homem de Neanderthal? O que faz um crânio de um primata da terra em Keppler-22b? E porque é que quando toda a gente estava à espera do nascimento de um hibrido humano tipo super-homem com capacidades para voar como a mãe Necromante nasce um reptil primata que voa? E a chegada de uma nova nave da Terra? E como se tudo isto não bastasse, os androides para eliminar o perigoso réptil mergulham no buraco em direção ao núcleo do planeta e tudo aponta para que todos sobreviveram.

A ideia que fica da primeira temporada é que os primeiros três episódios são muito bons, mas que depois os argumentistas entusiasmaram-se e o resultado foi um emaranhado de ideias desconexas com o único objetivo de levar a série para uma segunda temporada.