Teletrabalho de Quarentena

Teletrabalho em quarentena sem nexo
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Sexta-feira 24 de abril de 2020, o meu 30º dia da maldita quarentena do COVID-19. E para quem ainda não se apercebeu, sou um dos muitos portugueses que está em teletrabalho.

Não sejamos hipócritas, a única vantagem do teletrabalho é disfrutar de um horário flexível e  poupar umas centenas de euros em gasóleo. Na prática a produtividade do teletrabalho fica aquém dos mínimos da produtividade ideal porque exige muito mais controlo e coordenação de quem dirige, e isso na prática não acontece.

A estrutura organizacional e hierárquica de uma empresa dispersa-se fatalmente no teletrabalho porque, por mais ferramentas de comunicação e tecnologia que se tenha, não é fácil estruturar qualquer equipa multidisciplinar. Resumindo, as decisões agora ficam no topo e não são difundidas verticalmente para toda a equipa prejudicando inevitavelmente a produtividade. Na prática, no Teletrabalho ninguém sabe de ninguém.

Agora os gestores para ter sucesso são obrigados a escrever tudo, a serem mais organizados, e a fazer circular a informação de um modo mais eficaz. Para funcionar, o teletrabalho obriga-nos a todos a um esforço suplementar, e a grande verdade é que quem dirige não estava preparado para este cenário. Advinha-se assim que  muito poucas empresas portuguesas – mesmo muito poucas – conseguirão adaptar-se a esta nova realidade.

Com tudo isto, estou convicto que, a se prolongar o cenário do vírus por muito mais tempo, a tendência futura da Economia e do Emprego deverá ser como voltar ao tempo das antigas bordadeiras da Madeira que trabalhavam em casa e que eram depois remuneradas apenas com o bordado entregue, fosse quando fosse.

Reparem que sou suspeito e que devia ser a última pessoa do mundo a me queixar porque no meu caso as tarefas são quase todas exclusivamente informáticas. Na verdade,  e devido essencialmente ao isolamento,  a nossa estabilidade psicológica  deteriora-se de dia para dia, e com ela, inevitavelmente a produtividade.

O maldito vírus obrigou-nos a hábitos para os quais não estávamos preparados e os únicos momentos salutares do Teletrabalho é quando alguém em casa passa por ti, tosse, e insinua que há louça para lavar.