Os Snobes

Em miúdo julgava que os snobes eram pessoas ricas, inteligentes e de sangue azul. Lembro-me dos que no liceu passavam por mim ignorando-me como se eu fosse carne de porco transparente e que essa atitude fazia bastante mossa nos meus complexos normais de juventude.
Na altura, os mais ricos mantinham-se sempre à parte de todos os outros. Estas figurinhas eram normalmente filhos de médicos, de professores, de empresários e mantinham-se sempre em grupos muito fechados onde se exibiam para as miúdas mais giras do Liceu. Decididamente Deus enganou-se, separou os ricos dos pobres e não os inteligentes dos burros.
O snobe por definição é uma pessoa que ignora e despreza ostensivamente os outros porque os considera intelectualmente inferiores devido à posição social. O que a maioria dos snobes não sabe é que a palavra snob deriva do latim “sine nobilitate” que significa “sem nobreza”, ou seja, um snobe é alguém que se julga rico e importante mas que não passa de um vulgar mentecapto.
Lembro-me particularmente de um que esboçava um sorriso irónico sempre que exibia o seu Porsche, ou melhor, o Porshe do pai. Era um 911 e veja-se só que ele era tão brilhante e inteligente que um dia exibiu-se aos colegas da turma afirmando que tinha contado os cavalos que o Porshe tinha. Segundo ele, o Porshe era especial e jurou que contou 232 cavalos, que segundo ele, eram umas pecinhas vermelhinhas que estavam cravadas na cabeça do motor.
E por falar em asnos, um dia destes vi um desses snobs, que já não via desde os meus tempos do Jaime Moniz. Para o meu deleite a figurinha deu-me vontade de rir porque agora sei que não passa de um energúmeno que se meteu em alhadas e deve dinheiro a metade do Funchal. O cómico é que agora, mais velho, gordo e teso, continua sem conhecer e passar cartão aos outros espécimes que com ele coabitam.
Sorri e dei por mim a imaginar que o cagão continuava ser a mesma pessoa de que quando eu tinha 17 anos, ou seja, continua com um ar intragável. Se calhar agora para se julgar importante é enólogo, gosta de Jazz e tem montes de livros, tratando por tu Nietzsche, Moebius, Dali, ou Bergman, isto tudo sem saber ler, porque ler e escrever é coisa de pobre
Ainda a rir, acordei da minha divagação e questionei-me se, depois destes anos todos, os snobes já conseguem sequer peidar-se e arrotar como qualquer ser humano.