Os Snobes

52
9

Em miúdo julgava que os snobes eram pessoas ricas, inteligentes e de sangue azul. Lembro-me dos que no liceu passavam por mim ignorando-me como se eu fosse carne de porco transparente e que essa atitude fazia bastante mossa nos meus complexos normais de juventude.

Na altura, os mais ricos mantinham-se sempre à parte de todos os outros. Estas figurinhas eram normalmente  filhos de médicos, de professores,  de empresários  e mantinham-se sempre em grupos muito fechados onde se exibiam para as miúdas mais giras do Liceu. Decididamente Deus enganou-se, separou os ricos dos pobres e não os inteligentes dos burros.

O snobe por definição é uma pessoa que ignora e  despreza ostensivamente os outros porque os considera intelectualmente inferiores devido à posição social. O que a maioria dos snobes não sabe é que a palavra snob deriva do latim “sine nobilitate” que significa “sem nobreza”, ou seja, um snobe é alguém que se julga rico  e importante mas que não passa de um vulgar mentecapto.

Lembro-me particularmente de um que esboçava um sorriso irónico sempre que exibia o seu Porsche, ou melhor, o Porshe do pai. Era um 911 e veja-se só que ele era tão brilhante e inteligente que um dia exibiu-se  aos colegas da turma afirmando que tinha contado os cavalos que o Porshe tinha.  Segundo ele, o Porshe era especial e jurou que contou 232 cavalos, que segundo ele, eram umas pecinhas vermelhinhas que estavam cravadas na cabeça do motor.

E por falar em asnos, um dia destes vi um desses  snobs, que já não via desde os meus tempos do Jaime Moniz. Para o meu deleite a figurinha deu-me vontade de rir porque agora sei que não passa de um energúmeno que se meteu em alhadas e deve dinheiro a metade do Funchal. O cómico é que agora, mais velho, gordo  e teso, continua sem conhecer e  passar cartão aos outros espécimes que com ele coabitam.

Sorri e dei por mim a imaginar que o cagão continuava ser a mesma pessoa de que quando eu tinha 17 anos, ou seja, continua com um ar intragável. Se calhar agora para se julgar importante é enólogo, gosta de Jazz e tem montes de livros, tratando por tu  Nietzsche, Moebius, Dali, ou Bergman, isto tudo sem saber ler, porque  ler e escrever é coisa de pobre

Ainda a rir, acordei da minha divagação e questionei-me se,  depois destes anos todos, os snobes já conseguem sequer peidar-se e arrotar como qualquer ser humano.