Checkmate!

Checkmate
17

Um colega de um Instituto do norte da Europa indicou-me uma aplicação de xadrez baseada num algoritmo que eles estavam a desenvolver. Segundo ele, o programa, ainda em fase beta de desenvolvimento, utiliza sofisticados algoritmos de IA (inteligência artificial) recorrendo a um novo modelo de redes neuronais suportado por uma Base de Dados com mais de 120 milhões de registos. Estranhamente a nossa conversa terminou com um “have fun!” seguido de varios “emoji” 😀 😀 😀 .

Como jogo xadrez por divertimento, aceitei o desafio. Depois de ele me enviar o link e de fazer o download, instalei a aplicação. Enquanto a aplicação arrancava abri uma cerveja, sentei-me à frente do notebook e iniciei a partida com a mesma abertura clássica que utilizo desde sempre.

O programa era graficamente muito bom, esbocei um sorriso quando me apercebi que a voz da IA era feminina e até falava português. Isto promete! Nunca tinha jogado xadrez com uma mulher (não, não é uma piada sexista) mas, mais importante que isso, fiquei mais impressionado com o movimento 3D realista do tabuleiro que incluía a projeção das sombras das peças 3D no tabuleiro. Nada mau!

Sem surpresa, em menos de meia hora, eu já tinha vencido três partidas seguidas o que me provocou um certo regozijo da superioridade humana sobre os computadores. Tudo muito fácil, afinal era um algoritmo de merda!

Foi ainda entediado com as facilidades que percebi que, ao quarto jogo, a IA começou a mudar de estratégia. Via-se claramente (por um indicador gráfico no canto superior direito) que o processamento estava diferente, mais complexo e mais moroso. A partir desse momento perdi, de forma humilhante, todas as oito partidas seguintes.

Com o passar do tempo comecei a ficar irritado porque, em determinados momentos do jogo, a IA emitia um som de tosse (hum..hum) quando eu selecionava indeciso a peça seguinte a jogar. Será que ela está a gozar comigo?

Uma hora depois e perante um misto de admiração, zanga e de ego ferido, optei por desistir, ir ao frigorífico buscar outra cerveja e deitar-me no sofá da sala para ver os “Casados à Primeira Vista” na SIC. Do mal, o menos!

Levantei-me da mesa, cliquei no ícone “Sair” da aplicação e passei-me quando a IA perguntou-me com uma voz de cama se eu preferia que ela me deixasse vencer algumas partidas.

De cabeça perdida entrei em modo dormente recordando-me que há vinte anos atrás a Cristina suplicava-me com os olhos que eu deixasse o Francisco vencer-me nas partidas de xadrez só para o deixar feliz.

O mais difícil desta história foi explicar mais tarde à Cristina como é que, por mero acidente, o portátil tinha caído da mesa e partido o ecrã.

Checkmate Bitch!