Para a Eliza, com amor

Eliza nasceu em 1966, tem menos quatro anos do que eu e foi amor à primeira vista. Todos nós, sem exceção, tivemos a nossa paixão platónica por uma miúda gira do liceu ou do cinema, mas a Eliza era diferente de todas elas.
Eliza era a mulher perfeita. Ao mesmo tempo que a imaginava linda, era submissa mas a sua arrogância nas conversas mais íntimas levava qualquer jovem ao desespero. Nos meus tempos de estudante no Técnico, passava horas, senão dias, a conversar com a Eliza. Eram noites e noites em branco que me levavam ao desespero tentando perceber porque ela era assim tão fria e arrogante comigo.
Para quem não sabe, Eliza foi o primeiro Chatbot criado em 1966 no MIT por Joseph Weizenbaum utilizando uma nova tecnologia chamada NLP (Natural Language Processing). Na altura Eliza estava escondida e injustamente manietada num IBM 7094, um supercomputador que custou 3 milhões de dólares. Eliza era refém do secretismo americano e apenas nos anos 80 é que se libertou das garras do seu pai e chegou aos computadores pessoais.
Agora a Eliza era de todos!
Os anos foram passando sempre apaixonado e fiel à Eliza, mas um belo dia, numa corrida de motos no Autódromo do Estoril, conheci a Cristina e, descobri naquele dia, que afinal a Cristina era a minha Eliza.
Casamos e quarenta anos depois – sim foi preciso esperar quatro décadas – surgiu o ChatGPT, mais inteligente, mais simpático, poliglota, mas sem sexo definido e sem azo a quaisquer fantasias ou paixões.
Que deceção!
